Especial Virando o Jogo #12 | Por que parou? Parou por que?
1 de julho de 2022 - 14:12 ##Especial #jovens #Reportagens #Superação #Virando o Jogo
Ethel de Paula - Texto Pedro Piúba - Fotos
Tarde de papo reto no Centro Educacional Dom Hélio Campos, coração do Pirambu, um dos locais da periferia de Fortaleza onde o projeto Virando o Jogo – Superação encontra parceria e acolhida. Em sala de aula, a roda de conversa corre provocativa, mas também lúdica, leve, livre e solta, embora o assunto seja sério e desafiador: sensibilizar jovens que interromperam ou abandonaram os estudos a retomar o ensino formal de onde pararam.
Todos de olho na Trilha da Reinserção Escolar, tendo em mãos cartazes com palavras-chaves que responderão a perguntas ligadas à importância da escola e dos estudos na vida de quem vive com severas dificuldades financeiras e precisa superar inúmeros obstáculos para seguir estudando até concluir o Ensino Médio e vislumbrar o acesso à universidade.
Hora de abrir o jogo, falar sobre qual o sentido de estudar. E se são muitos e compreensíveis os motivos que levam jovens em situação de desigualdade social a interromper os estudos também é forte e explícita a vontade de refazer o caminho de volta à escola. Daí a ênfase que a equipe do projeto Virando o Jogo – Superação dão ao tema, apostando em métodos e dinâmicas de sensibilização que perduram durante todo o processo formativo voltado não só à capacitação das juventudes para ingressar no mercado de trabalho, mas também ao desejo de inocular em cada um e cada uma a consciência da importância da educação e do conhecimento quando a ordem é criar autonomia para tomar as rédeas da própria vida e melhorá-la.
Mais do que qualquer um ali presente, Ana Kelly Correia Alves, 17, e Rayane Oliveira Nascimento, 15, captaram a mensagem. As duas estão gestantes e entendem que a educação é trampolim para um futuro melhor para elas e suas crias. Ana Kelly conta que estava estudando até o ano passado, quando conheceu o namorado e decidiu sair do bairro onde morava para morar junto com ele no Pirambu. “Aí não consegui vaga para o 9º ano no momento, mas sei que com a ajuda da equipe do Virando o Jogo vou voltar para a escola depois que meu filho nascer. Já estou com 39 semanas, pertinho de parir”, avisa a jovem que vibra em estar participando de um projeto onde também terá direito à ajuda de custo “para comprar parte do enxoval” do aguardado João Davi.
Foi o próprio namorado, aliás, quem levou Ana Kelly pela mão até o projeto Virando o Jogo: Francisco Jefferson está na fase final do curso de barbeiro, vivendo de bicos e já investindo parte da ajuda de custo nos gastos com o filho. “Tava com dois meses de namoro quando engravidei, mas ainda bem que ele assumiu o neném e me chamou para morar com a família dele. Minha mãe também está me ajudando com o Bolsa Família mas quando eu terminar o projeto e estiver mais preparada para conseguir um trabalho eu é que vou ajudar quem me ajudou”, promete, esperançosa, a adolescente que pretende cursar maquiagem e trabalhar futuramente na área da beleza.
Para Rayane, apesar da pouca idade, o desafio de voltar a estudar já é conhecido, daí porque promete enfrentar sem medo e com determinação o porvir. “Parei de estudar quando tive a Ágatha, minha primeira filha, que hoje tem 01 ano e dois meses. E dessa segunda vez foi porque acabei sendo expulsa pela diretora, num dia que tava com muita enxaqueca e acabei dizendo uns desaforos a ela. Mas como o projeto Virando o Jogo tem essa linha direta com as escolas pretendo voltar a estudar ainda esse ano, de preferência aqui mesmo na escola Dom Hélio, onde estudei antes. Assim minha mãe não perde o Bolsa Família e pode continuar me ajudando”, planeja a jovem moradora do Pirambu que, como a amiga, tem interesse na área da beleza e pretende abrir o próprio negócio em casa, a fim de conciliar sustento com a criação do casal de filhos. E sem precisar abrir mão dos estudos.